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Está provado que chá de gengibre reduz dores menstruais?

25 Out 2023 - 11:00
falso

Está provado que chá de gengibre reduz dores menstruais?

Escreve-se nas redes sociais que o chá de gengibre é um chá “amigo da mulher” porque reduz “cólicas menstruais”. A autora da publicação partilhada no Facebook alega também que esta infusão “ameniza sintomas da TPM” e “reduz sintomas da menopausa”.

Noutra publicação, em que a autora se autointitula de “curandeira”, o chá de gengibre é apresentado como um “chá para o útero” porque “alivia as cólicas” e o “inchaço e dores no período menstrual”. Mas existe evidência científica robusta que prove a veracidade destas alegações?

É verdade que o chá de gengibre reduz dores menstruais?

Em declarações ao Viral, Diogo Bruno, ginecologista e obstetra no Hospital de São Francisco Xavier, adianta que “não há evidência científica” de que o chá de gengibre alivia as dores menstruais.

“Nas minhas consultas aconselho medicina convencional. O chá de gengibre será uma terapêutica alternativa”, acrescenta.

Uma meta-análise publicada em 2015 na American Academy of Pain Medicine sugere que o gengibre em pó poderá ser eficaz nas dores menstruais. Foram analisadas pacientes que tomaram doses de 750 mg a 200 mg de gengibre em pó por dia nos primeiros 3-4 dias do ciclo menstrual.

Apesar dos resultados, os autores da publicação admitem que o tamanho da amostra e a qualidade metodológica dos estudos “podem não ser suficientes para conclusões consistentes”. Os investigadores consideram que são necessários mais estudos para estabelecer a eficácia do gengibre nas dores menstruais “com clareza”.

No mesmo plano, o ginecologista e obstetra consultado pelo Viral assinala que neste estudo se verificou uma “pequena diminuição das dores”. No entanto, para Diogo Bruno, a evidência é “fraca”, uma vez que participaram menos de 400 mulheres nos quatro estudos incluídos na meta-análise.

Além disso, importa sublinhar que neste estudo não foi estudado o efeito do chá de gengibre, mas sim do consumo de pó de gengibre. Logo, não se pode concluir que estes resultados seriam os mesmos caso o gengibre fosse consumido em infusão.

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Apesar de não haver evidência científica consistente sobre os efeitos do chá de gengibre, Diogo Bruno considera que, à partida, esta infusão “parece ser segura”, dado que não foram registados efeitos adversos.

Além disso, um artigo da Cochrane Library, publicado em 2016, concluiu que “não há evidência” de que suplementos dietéticos, entre eles fitoterápicos como o gengibre, reduzem as dores menstruais, nem que sejam seguros. 

Os investigadores consideram as evidências de “baixa” ou “muito baixa qualidade”, com “imprecisões”, devido ao tamanho “muito pequeno” da amostra.

Dores menstruais: Porque acontecem? Quando são preocupantes?

Ao Viral, Diogo Bruno explica que as dores menstruais têm várias causas e, por norma, surgem durante os primeiros dois ou três dias da menstruação.

Em muitos casos, não têm uma causa identificada, ou seja, “não há uma explicação óbvia”, refere. 

No caso das dores identificadas, as mais frequentes são a endometriose e a adenomiose, indica o médico do Hospital de São Francisco Xavier. 

“São ambas caracterizadas pela presença de células do interior do útero em sítios que não deviam estar. São células que causam inflamação e descamam na altura da menstruação”, esclarece.

Os miomas no útero também podem causar dor menstrual, acrescenta o obstetra.

Mas quando é que as dores são preocupantes? Diogo Bruno alerta que qualquer dor que afete a qualidade de vida não é normal.

Ou seja, quando há apenas um “certo desconforto”, em que as dores são “ligeiras”, não será, à partida, sinal de alerta. No entanto, quando as dores são fortes e a pessoa pensa que “devem ter tratamento”, é porque, de facto, têm de ser investigadas, exemplifica Diogo Bruno.

O tratamento das dores deve ser “direcionado para a causa”, depois de uma investigação.

Se não for identificada uma causa, pode-se fazer tratamento “menos interventivo, como exercício físico e aplicação de quente na pelve”. Se as dores não melhorarem, acrescenta o médico do Hospital de São Francisco Xavier, pode recorrer-se a medicação analgésica, como paracetamol, ou anti-inflamatórios não esteroides, como ibuprofeno.

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Se os tratamentos anteriores não funcionarem, há ainda a opção de recorrer a contraceção hormonal, com pílula de estrogénio e progesterona.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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Categorias:

Ginecologia

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Produtos naturais

25 Out 2023 - 11:00

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